domingo, 19 de dezembro de 2010

especial


ler ouvindo : chico buarque- gota d'água


Seria demais pedir um pouco mais de confiança? Eu queria acreditar, sabe? Mas eu não consigo, fica até meio forçado. Auto-estima na fossa, ego no chão, mas quer saber de uma coisa, pouco me importa a sua escolha, pouco me importa essas merdas toda que você acredita, para mim é suficiente e pronto. Eu quero! Mesmo torto, cheio de defeitos, que me faz ter vontade de enfiar a mão no peito e rasgar tudo de uma vez, afim de não sentir uma única dor. Eu sei que nunca serei a sua melhor escolha, mas eu quero! Se for egoísmo, dessa vez , não me importo. Não me importo! E me incomodou saber que há escolhas, eu não falei por vergonha, besteira, medo, essas infantilidades que fode o mundo. Sabe aquelas pedrinhas, quando éramos crianças, que do nada no meio de tantas outras iguais, a gente escolhe aquela e leva pra casa, achando ser a mais especial do mundo. Pronto é assim que eu estou me sentindo. Não tem coisa pior do que fingir ser uma coisa, que eu nunca fui, e fingimento é uma coisa que eu sempre condenei, eu preciso parar de ter vergonha de ser o que de fato sou ou pelo menos o que eu acho que sou, e se eu digo que não me importo, eu minto, o que não devia acontecer. Se sentir diferente, mesmo não sendo digno de ser especial, mas agora que me acostumei, o que torna difícil aceitar o contrário.Vou terminar meu café antes que ele esfrie.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Despedida


Ler ouvindo: Satélite Kingston - Cáncion de despedida.


E assim larguei meus conceitos e seus beijos, e finalmente aqui no fim da estrada, em cima da maca de alguma emergência de um hospital sem vida, onde mortos circulam de branco tentando vencer o que não se vence, protelando o sofrimento enquanto eles mesmos vão morrendo. Acho que foi nesse meio, entre tanta amargura e falta de esperança que me veio uma lembrança boa, como se em uma fotografia velha ainda desse para ver umas ondas turvas batendo no vermelho do meu peito. Uma lembrança simples, talvez a escolhida por mim para ser a minha última memória, antes de perder minha consciência, que para ser sincero nunca foi muita. È engraçado que só assim, com o tempo marcado, é que pensamos em mudar o que não se muda, em viver o que não foi vivido, é quando queremos quebrar a rotina, cuspir no mundo sem ter saliva. Tomar a última dose, ouvir a última música, dar o último trago e tentar abrir um sorriso amargo, eu sei que nessa hora você, continua segurando minha mão, horário de visita, amigos e família começam a entrar na sala, pena, ternura e amor tudo se confunde nessa hora, mesmo estando em coma, eu espero que você sinta que ainda estou consciente, não falar comigo apenas por falar, como se apenas meu frágil corpo estivesse em sua frente. Passa a mão nos meus cabelos, encosta a mão no meu peito, eu sinto seu desespero, mas também tenho medo, ouvi rumores que os remédios não funcionam, falência múltipla dos órgãos, hemorragia interna e insuficiência respiratória, pelo visto meu corpo se perdeu , e meu peito de tanto ser retalhado, resolveu descansar de vez. Eu sempre quis saber, o que pararia primeiro ,meu coração ou minha mente, reconheço que nunca tive uma saúde muito boa, e sempre abusei dos vícios, mas desconfiava que meu peito cessaria primeiro e como conseqüência todo o resto. È evidente, tantos desamores e tantas dores, eu deveria no mínimo agradecer, se é que existe um deus, pelo peito tão forte que a cada impacto sofrido me segurava, mesmo caído, a continuar e seguir em pé. Engraçado como eu ainda sinto seu cheiro e seus dedos trêmulos, agora tocam o meu pescoço. Eu queria poder te olhar pela última vez, pena não ter mais força para abrir os olhos, imagino você usando aquele vestido roxo, cabelos presos em parte, olhar fixo, e maquiagem borrada das lágrimas . Acho que esse é meu maior sofrimento, maior que qualquer dor e incômodo causado pela doença. Maior que me ver preso em um inferno dentro de mim, maior que não ver o mar, maior que passar meus últimos dias em cima dessa cama, enquanto eu queria andar, ver os bairros que freqüentei, o gosto do café, o cheiro das ruas velhas e sujas que pessoas tão perdidas quanto eu, continuam a passar, tudo isso não é pior que te ter tão perto, como há anos eu não tinha e não poder abrir os olhos para te ver. E assim eu me arrependo de todas as oportunidades que tive em te visitar, todas as palavras que eu guardei e tantas outras que joguei fora, Nessa hora eu escutei pessoas saindo da sala, o tempo mais uma vez me consumindo, então vou mandar essa lembrança com toda força para que ela possa se projetar diante dos seus olhos, antes que os médicos peçam para você se retirar, antes dos aparelhos pararem de funcionar, eu queria te mostrar, aquele primeiro carnaval, minha camisa listrada e nossas alegrias que pareciam não ter mais fim. Uma pena que só tenha força pra te imaginar ao meu lado, já que no meu último dia você não veio, agora eu só escuto o silêncio, e tenho que guardar a lembrança que escolhi para sempre comigo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Uma merda.

ler ouvindo: as vitrines- chico buarque



È uma merda isso porque eu sempre tento me manter indiferente, mas me sinto cada vez mais só. Pelo menos de uns dias pra cá, ando com a cabeça meio longe. O que é uma merda, porque de fato eu fui guiado pela beleza dela, olhos e cheiro. Só eu sei como eu fui, só eu sei. O que é uma merda,porque eu achava que tava caminhando em uma avenida vazia, quando na verdade eu tava na contra-mão de uma montanha russa, mas pra ser sincero, pouco me importava. O que é uma merda porque há tempos não ficava assim, imaginando como seria sua presença me observando o dia todo, ao meu lado todo dia. Treinava até uma possível conversa, uma piada sem graça, um abraço, um carinho , uma troca de olhares e sorrisos, como uma necessidade em te ter nos momentos mais simples e o pior é que você nem imagina que eu existo. Logo eu que nunca tenho certeza de nada, estou começando a achar que te coloquei num pedestal antecipadamente, mas isso não se escolhe, é como uma doença, um vício, uma pulsação torta e fora do tempo,não se escolhe. Ela vem e pronto, ora não adianta querer entender, desenvolver teorias, basta viver, e só esse momento, porque quando acaba é de uma vez, não dá pra comparar sentimentos, e nesse aspecto acho até uma certa idiotice em comparar pessoas, amores e dores. O que é uma merda, pois é nessa hora que conselhos não funcionam, que meus livros não conseguem me ajudar, é exatamente nessa hora, com o desespero tomando conta, que eu sou sufocado, mergulho com o peito aberto e os olhos fechados, esperando o momento que vou estourar no chão ou ir me despedaçando aos poucos. Os que tão de fora vão no máximo me chamar de fraco, exagerado, que afogando ainda mais meu peito pouco adiantaria, como se a vida deles adiantasse de alguma coisa, como se as palavras deles me fossem úteis, como se soubessem o que é amor, tentando se encontrar em objetos, vivendo uma aparência, bom para eles que são felizes desse jeito, que suas crises são curadas com produtos e prazeres, que não conseguem enxergar além do muro que sufoca e protege. O que é uma merda, porque acabo me vendo tão perdido quanto eles. Mas sempre gostei da verdade, me interesso pelo vivo, em estar vivo e de saber que as pessoas também se sentem vivas, mas são raros os que conseguem se encontrar e nunca conseguem assumir o total controle do que é possível, abraçando o acaso e fazendo dele seu maior escudo. Enquanto, eu acabo de saber que ela, hoje vive na França, continua com o cabelo cacheado e estudando as plantas, enquanto eu nunca sei o que ando fazendo. Isso sim, de fato é uma merda.